domingo, 18 de julho de 2010

Santo Inácio de Loyola-"Sua Vida sua Obra"

IÑIGO Lopes de Loyola, o futuro Santo Inácio, nasceu em 1491. Não se sabe o dia nem o mês; presume-se, porém, que tenha sido por volta de 1º de junho, festa de Santo Iñigo, Abade de Oña (Burgos) pelo fato de o terem batizado com esse nome.
O pai de Inácio, seu irmão Martín e a esposa deste, Madalena de Araoz, foram os que cuidaram da educação de Inácio, que desde cedo deve ter entendido que, sendo o último de uma família tão prolífica, ia ter de construir o seu próprio futuro. Assim o entenderam também seus outros irmãos que foram fazer fortuna na milícia (como Beltrán e Ochoa) ou na América (como Hermando) ou na Igreja (como Pedro, que era sacerdote).Inácio entrega sua espada, para se tornar um soldado do Cristo
Iñigo recebeu a tonsura sendo ainda quase adolescente, tornando-se, então, clérigo de "Ordens Menores". Destarte, poderia receber um benefício eclesiástico, de caráter econômico, vinculado a esta condição e título. Vê-se, entretanto, pelo processo aberto contra ele em Pamplona, que seu comportamento deixava muito a desejar. Das atas desse processo se deduz que seus costumes, seu modo de divertir-se e seu penteado estavam longe de ser os de um "homem de Igreja".
O jovem cavaleiro
Com quinze ou dezesseis anos, Iñigo foi completar sua educação em Arévalo (hoje na Província de Ávila), na casa de Don Juan Velázquez, Contador-Mor do reino de Castela. Como era amigo do pai de Iñigo, ofereceu-se para acolher, como mais um filho seu, o caçula dos Loyolas.
O adolescente deve ter se sentido ali como em sua própria casa, rodeado dos filhos de Velázquez, alguns dos quais teriam mais ou menos a mesma idade que ele. Com eles vive em "grande estilo".
A perna quebrada
Inácio tinha uma tia freira que, ao saber das correrias e encrencas em que se metia o sobrinho, profetizou-lhe: "Enquanto não quebrares uma perna não mudas de vida, pondo a cabeça no lugar". Mal sabia a boa religiosa que a profecia se havia de cumprir. Iñigo foi ferido por um obuz no cerco de Pamplona e este foi o princípio da mudança fundamental de sua vida.
As tropas francesas e navarras que desejavam devolver o trono a Henrique de Labrit já estavam às portas da cidade, antes mesmo que os partidários de Carlos I tivessem podido reunir forças suficientes para enfrentá-lo. A população entregou-se sem resistência, mas os homens do duque de Nájera, Iñigo entre eles, fecharam-se dentro das muralhas da fortaleza.
A maioria dos sitiados, incluindo o alcaide, ao ver a desproporção das forças, estavam inclinados a se renderem sem lutar. Era simples suicídio fazer frente a um exército muito superior em número e mais bem provido de artilharias. Iñigo, porém, não estava de acordo com essa postura, que lhe parecia desonrosa. Convenceu, pois, seus homens a não capitular.
Os canhões começaram a bombardear a fortaleza em 20 de maio de 1521. Foi nesse ataque de artilharia que uma bala de canhão atingiu Iñigo, quebrando-lhe uma perna e deixando a outra muito ferida. Dia 24 de maio, a fortaleza rendeu-se, depois de graves estragos e rombos nas muralhas e ao ver caído o heróico defensor que jurara lutar até a morte.
Os inimigos reconheceram cavalheirescamente o valor do caçula dos Loyolas e se ocuparam da saúde desse adversário. Mas o estrago nas pernas fora grande; por isso, depois dos primeiros cuidados médicos, aconselharam-lhe que voltasse à sua casa, onde haveria mais facilidades do que numa praça de guerra.
De Pamplona o levaram a Loyola numa padiola. Imagine-se o que terá sido uma viagem dessas! Com os ossos quebrados e deslocados, cada passo ou movimento causavam ao ferido dores insuportáveis.
Foi dolorosa também sua chegada ao castelo. Iñigo regressava muito ferido, derrotado, ainda que mantendo intacta sua honra de cavaleiro. Provavelmente seu irmão Martín não terá deixado de lembrar-lhe que tinha sido um "cabeça dura", ao ficar em Pamplona em vez de optar, como ele e o próprio duque de Nájera, por uma retirada estratégica.
O estado do enfermo piorou. Os médicos aconselharam uma operação para pôr os ossos no lugar, uma vez que estavam deslocados talvez por causa dos trancos da viagem ou porque os médicos de Pamplona não tinham feito bom serviço. Anos mais tarde, Inácio qualificou essa operação de carnificina. Entretanto, deu mostras de grande resistência, não proferiu um só grito, limitando-se a apertar os punhos.
A operação não deu resultado, e Iñigo se viu às portas da morte, chegando a receber os últimos sacramentos. Pensavam todos ser o fim. A má estrela de alguns de seus irmãos mais velhos parecia pesar também sobre ele. Morrer aos trinta anos! Como um fidalgo, sim, valente, e até ambicioso, mas sem realizar nada que salvasse seu nome do esquecimento! Alguns poderão ter pensado: "Bem feito! Ele não fez mais que divertir-se e gozar a vida. Na verdade, não se perde grande coisa!"
A grande transformação
A morte não o levou. Já fora de perigo. Iñigo notou que a perna quebrada ficara mais curta que a outra e com um caroço que sobressaia. Coxo para o resto da vida? Nem pensar! Como poderia montar a cavalo, realizar belas façanhas? Como poderia cortejar a dama dos seus sonhos, sendo um ridículo manquitola?
Para eliminar essa deformidade, Iñigo exigiu e suportou uma segunda operação, não menos dolorosa que a outra. Depois passou meses deitado com molestos curativos e tendo de suportar pesos e outros mecanismos para esticar a perna.
Que faz um doente para passar o tempo de repouso forçado? Fazia todo tipo de planos para o futuro, como ele diz, pensando nas façanhas que realizaria a serviço da sua dama. Sonhava com os meios que usaria para aproximar-se dela, as mesuras, as belas frases e proezas guerreiras que lhe dedicaria.
Mas Iñigo se entedia. Toda a fantasia do mundo não basta. Pede romances de cavalaria para distrair-se; como não os houvesse no castelo, trazem-lhe "Vida de Cristo" de Ludolfo de Saxonia e a "Vida dos Santos").
Começou a leitura de má vontade, para matar o tempo e descobriu, com surpresa, que estava gostando. Notou também que sentia paz e alegria ao fechar tais livros, ao contrário do que acontecia quando cultivava seus sonhos cavaleirescos e guerreiros, que o deixavam triste e frustrado. Essa diferença de humor o deixava perplexo.
Visão de Inácio sobre o Cristo.
Por outro lado, Iñigo tinha visto de perto a foice da morte, o que o fez examinar sua vida passada. É o que sempre acontece com doentes graves, quando têm tempo para pensar.
O balanço não era positivo. Na perspectiva de Deus, ele era um pecador e um mau cristão.
Ao calor de tais sentimentos, suscitados por aquelas leituras piedosas, põe-se a meditar: "Que aconteceria se eu fizesse o que fez São Francisco... e São Domingos?..." Não lhe faltavam audácia nem coragem; isto era indiscutível! Destarte, fez promessa do que lhe parecia mais difícil de realizar; ir a Jerusalém descalço, comer só verduras e submeter-se às mesmas penitências feitas pelos santos, e até maiores.
Seu raciocínio estava cheio de um espírito ingenuamente competitivo: "São Domingos fez isto? Pois eu também farei!" Se um homem foi capaz daquilo, por que não o seria ele? Também neste ponto queria estar entre os primeiros.
Passam os meses de verão e outono; chega o inverno. Pouco a pouco seu coração se volta para Deus. Começa o trabalho de anotar certas passagens dos livros que lia. Põe-se, então, a copiar episódios de vida de Cristo, escrevendo as palavras de Jesus com tinta vermelha e com azul as de Maria.
Copiar, imitar: o propósito que acalenta é assemelhar-se aos santos e, com isto, desponta já uma terna devoção à pessoa de Cristo e à de sua Mãe.
Os irmãos de Iñigo, Martín e Pedro, bem como sua cunhada Madalena, estão preocupados: já não o houvem falar de proezas, amores e glória e, às vezes, surpreendem-no chorando ou totalmente absorto. Quando lhe perguntam o que tem, responde com evasivas.
Em princípios de 1522. Iñigo já está quase restabelecido e anuncia sua partida. Diz que vai a Navarrete encontrar-se com o duque de Nájera, para cobrar uma dívida. A família o vê sair com apreensão... Que estaria tramando o caçula dos Loyolas?...
O velho homem, o capitão, o amigo dos jogadores e das mulheres está morrendo e dando surgimento a um novo Homem, com uma nova resolução: servir a Deus.
O homem do saco
Cavalgando uma mula, com seu irmão Pedro e dois criados, deixou Loyola a caminho do santuário mariano de Aránzazu. Lá, depois de agradecer pela cura, despediu-se de Pedro e tomou o rumo de Navarrete (Rioja), como dissera a sua família. Com o dinheiro do soldo recebido, pagou algumas dívidas pendentes; em seguida despediu os criados e, sozinho, encaminhou-se para Monteserrat.
Iñigo estava decidido a pôr em prática o propósito concebido em Loyola. Havia três peregrinações que um cristão podia empreender: Santiago, Roma e Jerusalém: a última lhe parecia não só a mais custosa, pela distância, mas também a mais perigosa. A Terra Santa estava nas mãos dos turcos infiéis; a situação política era tensa, com perigo de guerra a qualquer momento. Em tais circunstâncias, ir a Jerusalém era um risco certo.
Mas não iria como um nobre, protegido por seu dinheiro e posição social, mas como um peregrino desconhecido. A partir desse momento, ele começa a ocultar sua identidade. Não quer privilégios no trato, deseja começar uma vida nova e, neste empenho, via um empecilho na sua linhagem.
Enquanto ia de Ribeira para Aragão, houve o incidente com o mouro que duvidava da virgindade de Maria. Sua cavalgadura, mais sábia que ele, livra-o de um lance mau. Antes de chegar a Montserrat, (o Mont-Salvat das lendas do Graal), em cuja pendente e a uma altitude de 720 m encontra-se a abadia beneditina fundada em 1030, comprou pano de saco para fazer uma roupa de peregrino, bem tosca e áspera, munindo-se também de um bordão e uma cabaça.
Seja o que Deus quiser
Foi tempestuosa aquela primeira temporada em Manresa. Ele adquirira em Loyola o costume de anotar tudo quanto se passava em seu espírito; começou, então, a perceber, relendo suas notas, que as diversidades de estados de ânimo tinham um significado: Deus estava lhe mostrando, por meio deles, a sua vontade. Havia até certos bons desejos que camuflavam suas resistências a uma conversão sincera e profunda. Outras vezes até os jejuns e penitências atrapalhavam sua oração em vez de ajudá-la.
Iñigo estava fazendo, sem o saber, os seus "Exercícios Espirituais". Mediante a oração e a contemplação dos Evangelhos, ia-se entusiasmando com a pessoa de Jesus, assimilando suas atitudes e conformando toda sua vida com a do Cristo. A experiência daqueles dias, cuidadosamente anotada em um caderno, será o germe dos seus "Exercícios", um dos livros que mais influíram na Igreja. Retificando alguns pontos, acrescentará aqui, cortará ali, mas, naquelas suas notas, já está o método inaciano para encontrar a vontade de Deus e entregar-se à Pessoa de Jesus Cristo.
Um dia, enquanto lia "Horas de Nossa Senhora" em voz alta, nas escadarias da Abadia de Montserrat sua compreensão elevou-se e ele percebeu o mistério da Santíssima Trindade, como uma harmonia musical, na forma de música de órgão. Esta experiência foi tão tocante que o fez chorar.
Em outra ocasião, vivenciou uma onda de grande alegria espiritual, quando compreendeu a forma que Deus usou na criação do Mundo. Viu algo brilhante de onde raios brancos eram emitidos, viu que Deus estava criando Luz. Mas ele não pode explicar o fenômeno.
Um dia os olhos interiores de Inácio, enquanto participava de uma missa na Igreja do Mosteiro, viram o momento em que o corpo do Senhor (a hóstia) era levantado, o que pareciam ser raios de luz, vindos de cima. Isto foi interpretado por ele como sendo a presença de Cristo.
A nova vida de Inácio
Depois das experiências de Manresa e Jerusalém Inácio deu inicio aos estudos avançados que culminaram com o recebimento do título de Mestre pela Universidade de Paris em 1534.
Em 1539 Inácio e seus seguidores decidem formar uma nova Ordem.
O Papa aprova o plano,resultando no estabelecimento da "Companhia de Jesus".
No dia 15 de Agosto de 1534, Santo Inácio e seis companheiros (Pedro Fabro, Francisco Xavier, Afonso Salmerón, Diogo Lainez, Nicolau Bobadilla e Simão Rodrigues) fizeram na Igrejinha dos Mártires de Montmartre, os votos de "pobreza, castidade e obediência". Pedro Fabro o único sacerdote do grupo celebrou a Eucaristia, durante a qual foram emitidos os votos. Em Janeiro de 1537, Inácio encontra de novo seus seis companheiros em Veneza. Enquanto esperavam a partida do navio dos peregrinos para Jerusalém trabalharam no hospital de Veneza.
Em 24 de Junho de 1537 recebe a ordenação sacerdotal em Veneza. Em fins de Setembro do mesmo ano teve de reconhecer que a desejada peregrinação à Terra Santa se tornara impossível, por causa da guerra entre Veneza e os Turcos. Por isso, determinou-se a ir a Roma, juntamente com Fabro e Lainez, para colocar-se à disposição do Papa. A fins de Outubro de 1537, os peregrinos da Companhia de Jesus entravam na cidade papal de Roma.
Um pouco antes de chegar em Roma, na capela de la Storta, Santo Inácio estando em oração, teve uma visão da Santíssima Trindade e ouviu do Pai estas palavras: "Eu vos serei propício em Roma", Santo Inácio ouviu ainda como o Pai dizia a Cristo: "Quero que tomes este ao teu serviço".
Em 1539 Inácio e seus seguidores decidem formar uma nova Ordem. O Papa aprova o plano, resultando no estabelecimento da "Companhia de Jesus" (os jesuítas).
Desde Fevereiro de 1541, a nova Ordem viveu numa casa ao lado da Igreja de Santa Maria degli Astalli. Em 1544, nesse mesmo lugar, foi construída a antiga casa professa, na qual Santo Inácio recebeu três pequenos quartos.
Manteve o posto de geral dos jesuítas até 1552. Serviu durante o tempo em que houve uma grande expansão mundial da Companhia. Foi nesse período que completou a Constituição da Ordem.
Inácio morreu em 31 de julho de 1556.
• Em 1622 a Igreja Católica o declarou Santo










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